terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sou interno de um hospício

Admito: sou interno de um hospício. Com essa frase Günter Grass, dá inicio ao seu fantástico O Tambor. Em 2009, fui seduzida pela trajetória de Oscar Matzerath e seus múltiplos talentos, contidos em um corpo diminuto e disforme, assim como o seu caráter.

"...a partir de meu terceiro aniversário, não cresci um dedo a mais; estacionei nos três anos, mas também como uma tríplice sabedoria: superado no tamanho por todos os adultos, mas tão superior a eles; sem querer medir minha sombra com a deles, mas interior e exteriormente já acabado, enquanto eles, mesmo em idade avançada, continuavam se infernizando a propósito de seu desenvolvimento; compreendendo o que os outros somente logram com a experiência e frequentemente a duras penas; sem precisar mudar ano após ano os sapatos e calças para demonstrar que algo crescia".

Quando li a obra de Grass tive muita vontade de estudá-la mais afundo, especialmente o estilo narrativo adotado pelo autor, ora na primeira pessoa, ora na terceira. Na semana passada, buscando algumas dissertações e teses sobre cinema me deparei com um trabalho sobre o livro e sua adaptação ao cinema, de Volker Schlondörff. Em uma primeira olhada, pareceu-me um estudo muito interessante. Deixo aqui o link de Estratégias narrativas em O tambor: o diálogo entre a literatura e o cinema, de Elisandra de Souza Pedro.

Lembro-me que, quando criança, um pouco maior que o pequeno Oscar, ouvi meus pais conversando sobre um filme que contava a história de um menino que não crescia. Na ocasião, temi que algo semelhante ocorresse comigo. Hoje, com quase 30 anos e não muito grande, me divirto ao ler as palavra de Oscar: "Trinta anos é uma boa idade para o sedentário: ou então, me deixo pregar, me afundo no mundo, só porque tenho trinta anos, e desempenho o messias que insistem em ver em mim, e, contra minha própria convicção, faço de meu tambor mais o que ele é: converto-me em símbolo, fundo uma seita, um partido ou ao menos uma loja maçônica".

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