Quando conduziram Ivone de sua casa para a ambulância, ela levava consigo a roupa do corpo e seus calçados. Nada mais. Não esboçou resistência e nem sequer desconfiou que a delatora fora a vizinha de porta. Ficou satisfeita apenas por não estar descalça. À noite, no quarto compartilhado com os outros pacientes, deitou-se com os cadarços amarrados aos cabelos. Despertaria, sem dúvida, se tentassem roubar-lhe o último bem. Naquela emaranhado, cabia-lhe da fronha a terça parte. O resto, a imensidão do travesseiro, era ocupado pelo par de sapatos. A cama, àquela hora, era o jazigo de sua loucura.
Texto escrito em 2007 para a Revista i!
1 comentários:
Gosto do que a Maíra escreve, mas como sou o pai da criatura, é meio suspeito. Nem ela acredita que eu possa gostar. É uma pena.
Charles Kiefer
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